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quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

GUIA DE LEITURA >> Elric de Melniboné




Considero Elric um dos personagens mais injustiçados no mundo da literatura fantástica.

Se tivéssemos que fazer uma árvore genealógica provavelmente Elric seria o avó de Geralt de Rívia por ser um grande feiticeiro, lidar com poções mágicas e conhecer todos os monstros e suas fraquezas ou mesmo o bisavó de Daenerys Targaryen, não só por seus longos cabelos brancos mas também por possuir um exércitos de dragões e ser um pouco louco e atormentado.

Mas por que  as historias de Elric inspiraram vários autores a criarem mundos tão incríveis quanto Melniboné,  habitado por bruxos, feiticeiras, guerreiros, monstros, seres medievais, intrigas, conspirações, traições e até incesto (!) e nunca foi adaptado para um filme, um game ou até mesmo uma série ?

Elric ama sua prima, a feiticeira Cymoril e aparentemente o irmão dela, Yyrkoon , também !  

Existem vários motivos : seja a complexidade psicológica de Elric e sua fragilidade física que faz com que ele dependa de poções mágicas e drogas para poder viver, sua espada Stormbringer que tem vida própria e ao mesmo tempo que dá força para ele lutar, domina a mente de Elric quase ao ponto de enlouquece-lo. Existe também  o excesso de violência dos melnibonianos, que escravizam humanos, matando-os tanto para rituais ou por puro tédio. Uma construção visual do reino de Melniboné à altura do que foi imaginado pelo autor e as várias adaptações para os quadrinhos ou mesmo um ator com características físicas parecidas e capaz de sustentar a estranheza do personagem.

Elric entre a euforia da matança com sua espada Stormbringer e seus dilemas morais

Em 1961 , Michael Moorcock começa a escrever para a revista inglesa “Science Fantasy” contos sobre um imperador de Melniboné, um rei rejeitado por seu próprio povo e um dos últimos herdeiros de sua linhagem. Elric comanda um reino que já esteve em seu ápice de grandes vitorias há mais de 10 mil anos mas agora encontra-se em decadência. Os melnibonianos, antes temidos por outros reinos, agora são menosprezados e considerados uma raça que em pouco tempo será extinta.

Detalhe da graphic novel "O Trono de Rubi"

A seu favor, Elric possui inteligência e grande conhecimento das artes magicas e feitiçarias além da sua espada Stormbringer, a ceifadora de almas. 

Esses contos viraram livros quase uma década depois e em menos tempo bem sucedidas adaptações para quadrinhos.

Histórias sobre guerreiros, seres míticos, élficos, magia, batalhas são contadas há séculos. A história de Michael Moorcock é uma mistura lendas nórdicas, medievais, poemas épicos finlandeses, gregos, anglo saxões... Segundo o próprio escritor, as histórias de J.R.R Tolkien e Conan também serviram de base para contar a saga de Elric de Melniboné.

Elric sozinho em seu Trono de Rubi - Art by Gary Jamroz

Nos anos de 1960 , Moorcock era o editor de um fanzine chamado “Amra” , ele propôs a escolha de um novo termo para diferenciar as produções de ficção que eram chamadas genericamente de “fantasia épica” ou “capa e espada” e o escritor Fritz Lieber sugeriu “espada e feitiçaria” , onde as histórias possuíam mais elementos sobrenaturais, magia, mulheres sensuais e violência. Se hoje usamos o termo “espada e feitiçaria” para classificar os livros/contos de fantasia é por causa de Michael Moorcock que popularizou o gênero.

Uma visão mais sombria de Elric em seu trono - Art by Piotr Jabłoński


POR ONDE COMEÇAR A LEITURA ?
Existem 2 livros  lançados no Brasil
Elric de Melniboné – A traição do Imperador
Elric de Melniboné _ Livro Dois

VALE A PENA LER OS LIVROS?
SIM e NÃO
SIM >>  Porque é a história original do personagem e os livros estão em ordem cronológica. A narrativa de Moorcock é bem rápida e direta. Você tem a perspectiva da história pelos olhos de Elric, suas angustias e duvidas sobre o tipo de governador que ele quer ser com aquilo que esperam dele. Michael Moorcock não fica enrolando o leitor, seus diálogos são muito bons e  dá para entender porque ele já foi adaptado tantas vezes para os quadrinhos. A leitura é super fluida, dá para ler em 2 ou 3 dias no máximo !

NÃO >>  As edições brasileiras são apenas duas e sem previsão de lançamento para as outras. São 6 os livros da saga de Elric e para os leitores compulsivos 500 paginas (ao total) não é nada ! Os livros possuem uma boa tradução, tem capa dura com bom acabamento mas pecam por não trazerem um histórico sobre o escritor e seu personagem e a importância da saga. 

Elric serviu de inspiração para muitos autores. Qualquer semelhança ...

VALE A PENA LER OS QUADRINHOS ?

Sim, especialmente a edição lançada pela editora francesa Glénat . São 4 edições que seguem a ordem cronológica do personagem e possuem uma das mais belas artes feitas para uma graphic novel. A edição brasileira saiu pela Mythos editora, que compilou o 1 e 2 tomo em uma só livro. A editora Glénat ainda não divulgou o lançamento da 4ª edição até o momento, sendo que a terceira foi lançada em 2017 e a Mythos depende desse quarto quadrinho para poder lançar a continuação por terras brasileiras.

A nova versão em quadrinhos pela editora Glénat 


VALE A PENA COMPAR OS QUADRINHOS IMPORTADOS ?
Depende do seu bolso... mas vale cada centavo !
"The Michael Moorcock Library", são 5 edições com as ilustrações clássicas lançadas nos anos 1980 ilustrados por P.Craig Russell (trabalhou em várias obras de Neil Gaiman : Sandman, Livros da Magia, Deuses Americanos) adaptado por Michael T.Gilbert  (trabalhou para a DC , Dark Horse e na revista Heavy Metal) e Roy Thomas (sucessor de Stan Lee na Marvel, também foi o responsável pelos primeiros quadrinhos do Conan) 

A clássica adaptação dos anos 1980

SEU INGLÊS ESTÁ EM DIA ?
Quando Michael Moorcock começou a saga de Elric ele não pensou em uma história com começo, meio e fim. Não fez nenhum organograma ou planejamento individual com cada personagem, como aconteceu com George R.R. Martin e seu "Guerra dos Tronos".

As histórias foram acontecendo e por isso mesmo ela inicialmente não possui uma ordem cronológica. Bem parecido com a saga de "The Witcher", que começa com as memórias de Geralt no primeiro livro "O ultimo Desejo"

Se você é fluente ou quer melhorar seu inglês os livros são uma boa opção e as versões americanas, pocket books, são as mais baratas, mas você consegue encontrar as versões em e-book grátis em fan sites , que são mais confiáveis.



(IElric of Melniboné
(IIThe Sailor on the Seas of Fate 
(IIIThe Weird of the White Wolf
(IVThe Vanishing Tower
(VThe Bane of the Black Sword
(VIStormbringe



Elric de Melniboné: Livro Um: A traição do Imperador (2014)
Editora: Generale
ISBN: 9788563993960

Elric de Melniboné: Livro Dois (2017)
Editora: Generale
ISBN: 9788584611157

Boa Leitura !!!

ASSISTA AO VIDEO NO YOUTUBE TAMBÉM >> https://youtu.be/rEnngTP_jYQ

sexta-feira, 15 de junho de 2018

Sonhos Eletricos _ Electric Dreams / O livro e a série


Sonhos Elétricos – O Livro

As histórias de PKD são bem peculiares, até mais do que os de outros romancistas de ficção científica.Não se trata apenas de carros voadores, lasers ou robôs, o fator humano em sua obra é o principal; os conflitos, os sonhos, as decepções, a ( i ) mortalidade e a loucura.

Quando alguém que nunca leu PKD me pergunta por qual livro deve começar eu sempre indico “UBIK” e “Realidades Adaptadas”, agora posso acrescentar “Sonhos Elétricos” para a lista.
>>> Em breve: Guia de Leitura PKD aguardem !!!

Em sua vida, Philip K Dick escreveu mais de 120 contos e 36 romances. Ele escrevia compulsivamente, em parte para poder pagar suas contas e também para colocar todos aqueles mundos para fora da sua mente. Uma mente habitada tanto por fantasmas do passado quanto do futuro.

Ao ler “Sonhos Elétricos” você irá encontrar algumas de suas inquietações, sobre a guerra nuclear, o consumismo, a invasão de privacidade, aceitar a realidade que nos cerca ou procurar por uma outra. Aquela velha duvida: tomar a pílula azul ou a vermelha?

Até hoje não consegui encontrar nenhum escritor com a mesma loucura/genialidade de PKD. Diferente de Asimov, que era um cientista e trazia para a sua obra previsões mais tecnológicas, ou mesmo Arthur C Clarke que tinha uma pegada mais espiritual; talvez você encontre uma similaridade com a obra de Ursula K LeGuin que usava como fundo a ficção cientifica para escrever sobre assuntos mais profundos sobre a humanidade e seu futuro.

Não vou fazer a resenha de conto por conto.Você pode encontrar isso em outros sites que possivelmente irão atrapalhar mais que ajudar. No artigo em que faço um comparativo entre os contos e as adaptações apenas resumo as histórias, nada que interfira na sua futura leitura. Uma dica: leia com a mente limpa e aberta, assim você consegue viajar durante todo o livro. Basta dizer que todos os contos são ótimos, e com certeza você vai escolher os seus preferidos ao final do livro. Os meus destaques vão para: “Humano É”, “O Passageiro habitual”, “Argumento de venda”, “O planeta Impossível” e “Foster, você já morreu”. A única exceção foi “Autofab”, o conto que menos me cativou e que até ficou bem adaptado para a série. Mas isso você vai ler daqui a pouco!  


Pergunta : É preciso ler o livro antes de ver a série ?
Resposta : Não. São experiências bem diferentes.Mas sabe aquela velha frase: O livro é melhor...vale para este caso.
Pergunta : É tão ruim assim?
Resposta : Ficou razoável , acredito que os 10 diferentes diretores quiseram deixar sua “assinatura” e muitos perderam a mão e não respeitaram o texto original ou não foram coerentes com a obra de PDK
Pergunta : Vai ter spoilers nos comentários?
Resposta : Quem sabe...



Electric Dreams  - A série

A difícil arte de adaptar

Não deve ser fácil ser roteirista.
O roteirista precisa se “apropriar” da obra do escritor para adapta-la ao cinema, série ou um episodio com menos de uma hora, sem tirar seus elementos principais e personagens. É preciso ser fiel a história e ao mesmo tempo acrescentar ou retirar algumas partes. Um cirurgião plástico usa procedimentos bem parecidos, mas como já sabemos, existem as boas plásticas e aqueles que são um desastre total.

No livro “Sonhos Elétricos”, antes de cada conto, você encontra as explicações de cada roteirista de como o processo foi feito; o que foi mantido do texto original, as mudanças e adaptações. Recomendo ler após ver cada episódio, mas fique a vontade caso queira ler antes!


Aqui está a lista dos melhores aos piores >>
*** Boa adaptação
**   Ok , dá para encarar
*     Só se você estiver com tempo sobrando


*** Kill All Others (O enforcado desconhecido)
Homem sai na rua e vê corpo pendurado em um poste. As pessoas passam por perto e nem ligam. Incomodado com a situação ele começa a questionar os amigos, vizinhos e a sua mulher.Todos dizem para ele deixar isso para lá e não se importar. A adaptação foi bem inteligente em colocar o dedo na ferida em temas atuais como a política, o ódio gratuito pelo diferente, pelo estrangeiro e o medo da vigilância digital. Ficou com uma cara de episódio do Black Mirror, e ficou muito bom.  

É sério que vocês não estão vendo esse outdoor ?


*** Human Is (Humano é)
Marido violento e opressor, sai em missão a outro planeta e quando volta está totalmente diferente.Existe a possibilidade de um alienígena ter invadido seu corpo para poder sobreviver na colônia humana. Cabe a sua mulher denunciar ou não seu “novo” marido, que agora está atencioso e romântico, algo que ela nunca teve antes. A adaptação não mudou muito, existe o acréscimo de alguns elementos na história mas elas fazem sentido dentro do episodio. E temos nosso eterno Walter White, o ator Bryan Cranston no papel principal e com direito a cena sensual !


Loving the Alien


*** Impossible Planet (Planeta Impossível)
Senhora idosa, surda e com a saúde bem debilitada tem um ultimo desejo: conhecer o planeta Terra. Ela contrata dois pilotos não muito honestos para fazer essa viagem, mas os próprios pilotos não sabem as coordenadas para a Terra e procuram por algum planeta similar, para assim enganar a senhora e ficar com seu dinheiro. A estrutura principal do conto ficou e também seu final. Alias, é um dos mais curtos do livro, e a adaptação virou uma história de amor. Não, não ficou ruim, foi uma solução bem pensada e talvez esse seja seu maior ponto positivo.

Em algum lugar do passado...


*** Safe and Sound (Foster, você ja morreu)
Em um futuro onde a Guerra Fria não acabou e a possibilidade de uma ataque nuclear pode acontecer a qualquer momento, todas as famílias possuem abrigos nucleares, menos a família de Foster. Seu pai é totalmente contra comprar um abrigo porque ele acredita que a Guerra Fria não existe mais e os abrigos são muito caros e desnecessários. Enquanto isso, Foster sofre bullyng na escola e vive um medo constante de morrer porque não tem onde se abrigar durante um ataque.
Os roteiristas trazem a mesma história para o tempo atual e as mudanças são enormes: Foster agora é uma adolescente, no lugar da bomba temos os terroristas; o pai vendedor de móveis virou uma mãe ativista política e o abrigo nuclear é um superhiperplus incrível celular que todos precisam ter por “segurança” pessoal e da comunidade. Outro episódio que ficou com cara de Black Mirror mas respeita a essência da obra de PKD

Nem Steve Jobs deve ter imaginado um celular igual a esse !


** The Commuter (Passageiro habitual)
Bilheteiro de uma estação de trem vê um homem desaparecer na sua frente depois de dizer que a cidade que ele quer comprar a passagem não existe. Após alguns dias o mesmo homem reaparece pedindo a mesma passagem, o bilheteiro começa a questionar onde é esse lugar e quando diz ao homem que tal cidade não existe, o homem desaparece novamente. Não vou contar mais se não vira spoiler... Um conto que precisava apenas de uma modificação: ao invés de investigar sobre a cidade em uma biblioteca a pesquisa seria feita pela internet. Pronto, só isso ! Todos os elementos de fantasia, diálogos e personagens estão perfeitos. A adaptação virou um melodrama espírita/tecnológico sem sentido.O que salva é a atuação de Timothy Spall, se não fosse por ele o episódio seria até mais fraco.

Ói, ói o trem, vem trazendo de longe as cinzas do velho éon


** Autofac (Autofab)
Uma fábrica autônoma, que funciona apenas por robôs controlados por uma inteligência artificial, produz mais produtos do que as pessoas conseguem consumir e está esgotando os recursos naturais do planeta.Um grupo de pessoas vai tentar enganar essa IA para poder destruir a fábrica.O conto original é um pouco confuso e talvez o menos cativante em termos de história e personagens. Aparentemente o roteirista Travis Beacham achou o mesmo quando diz que :“Autofab” não era o conto que pretendia adaptar de inicio” mas conseguiu fazer um bom trabalho.

We're charging our battery And now we're full of energy


** The Hood Maker (O fabricante de gorros)
No futuro a policia usa os telepatas, ou teeps, para ler as mentes de possíveis inimigas do governo que querem causar caos ou rebeliões.Os “gorros” são bloqueadores contra os teeps, e estão sendo enviados para pessoas aleatórias por toda cidade.Um movimento contra a invasão de pensamentos se espalha pela cidade ao mesmo tempo que os teeps querem tomar o controle da coisas e eliminar as pessoas normais. Aqui temos um conto clássico de PKD que revisita o assunto de telepatia, os exemplos mais conhecidos são os precogs de “Minority Report” e em sua versão anterior, em UBIK.
Novamente, e até hoje não entendo porque gostam tanto de incorporar histórias de amor nos contos ! Aqui temos um romance entre uma teep, Honor e o investigador de policia, Ross. Existe a mudança de perspectiva pelo ponto de vista da telepata, ficou bom mas não ficou incrível.    

The Hood Maker : vários "easter eggs" da obra de PKD espalhados pela episodio


E aqui vai o premio para pior adaptação >> difícil escolher qual é o mais sem noção.
O site IMDb deu até umas notas ok... mas...sem chance! Por isso fica a dica, leia os contos, você vai gostar muito mais 

* Real Life (Peça de Exposição)
Só pela introdução feita pelo roteirista você sabe que deu merda: “Resta muito pouco do conto no episódio...” Na verdade não restou nada, ficou uma mistura de “Vingador do Futuro”com alguma serie policial de investigação bem fraquinha.Chega até a dar sono de tão arrastada e confusa.Os experientes atores Anna Paquin e Terrence Howard  não seguram o episodio e parecem que caíram de pára-quedas na história.

* Crazy Diamond (Argumento de Venda)
Outra grande decepção, porque o conto é tão bom e com momentos em que você pode até rir de nervoso com algumas situações. Quem adaptou foi Tony Grisoni (Medo e delírio em Las Vegas, Mindhunters) e tem até o esquisito que amamos, Steve Buscemi. Era quase certo que seria um bom episódio... só que não.Foi até difícil reconhecer qual conto tinha sido adaptado, uma mistura de elementos da obra de PKD com filme noir, alguma coisa kitsch dos anos 70, pesquisa genética e um final totalmente incoerente. Tem que ter muita paciência até chegar o final.

* The Father Thing (A coisa-Pai)
Ok, o conto não é um dos melhores ou mais originais de PKD , mas dava para fazer uma adaptação no mínimo decente. Acrescentaram um mini drama desnecessário entre pai e filho, umas crianças totalmente deslocadas dentro da trama e uma narrativa muito lenta e introspectiva sem propósito.Parece aqueles filmes bem chatinhos com crianças que passam na Seção da Tarde, a diferença é que temos alienígenas invasores de corpos.Dos três piores é o menos pior, mas continua sendo chato.  

Steve Buscemi morrendo na praia

Para quem leu até o final dessa enorme resenha, meu muito obrigada !!! Volte sempre ;)

SONHOS ELETRICOS
AUTOR : PHILIP K DICK
EDITORA : ALEPH
ISBN : 9788576573975