domingo, 8 de maio de 2016

Patti Smith - "Linha M"





“Não é tão fácil escrever sobre o nada” diz o Cowboy para a escritora, o sonho em que eles se encontram pode ser tanto da escritora quanto do Cowboy, quem pode dizer? Antes que o sonho acabe ele conclui: “O escritor é o condutor”

E assim, a partir deste ponto, que Patti Smith nos conduz em seu livro 
“Linha M” (mental train ou mind train). A viagem começa no Café‘Ino, onde Patti nos convida para tomar um café preto com torradas e azeite e contar um  pouco da sua vida. Seus escritores favoritos, falar sobre literatura japonesa, relembrar um pouco de seu passado, seu marido já falecido, sua obsessão por seriados policiais e mostrar algumas de suas fotos Polaroid.

Uma das maiores qualidades de Patti Smith como escritora (assim como em todo sua carreira como compositora/poeta) é a sua maneira despretensiosa e ao mesmo tempo poética de contar uma história e passar a mensagem de forma simples, bela e clara.

O livro pode ser descrito como um diário que não segue uma linha cronológica. São idas e vindas entre o passado e o presente. E é através das fotos, que segundo Patti "são como as medalhinhas que os peregrinos colocam em seus rosários", que acompanhamos esta peregrinação para os túmulos dos escritores que ela tanto admira: Rimbaud, Genet, Plath e Brecht. “Eu tenho pilhas de fotos Polaroid, cada uma marcando meus passos, que às vezes espalho como cartas de tarô ou figurinhas de beisebol de uma imaginaria equipe celestial”.



Muitas passagens do livro são quase oníricas; o Cowboy dos sonhos de Patti aparece algumas vezes durante a jornada, lembrando mais um guia espiritual do que apenas um fruto imaginário de um sonho, alguém que a atormenta e também dá conselhos.

Patti Smith escreve sobre as pequenas coincidências que acontecem em sua vida: datas, lugares, livros, perder e achar coisas misteriosamente. Sua pequenas obsessões por cadeiras, canetas, objetos que se tornam talismãs.Coisas que possuem vida própria e precisam voltar para seu local de origem ou desaparecer para sempre.

Detalhes do cotidiano que nós não damos mais importância.
Estar atento aos recados que o mundo quer dar: conversas com um estranho na rua, se desapegar das coisas materiais, guardar as boas memórias em nossas mentes e corações.

Ao ler “Linha M” tente compara-lo a uma boa xícara de café, deguste aos poucos, tente sentir os aromas e nuances de cada capitulo sem pressa porque o livro tem só 206 paginas e acaba muito rápido. E acredite, você não vai querer que ele termine tão cedo.

“Como ficamos tão velhos? Pergunto ás minhas articulações, ao meu cabelo cor de ferro. Agora já estou mais velha que meu amor, que meus amigos que já se foram. Talvez eu viva tanto que a Biblioteca Publica de Nova Yorke  seja obrigada a me ceder a bengala de Virginia Woolf. Eu cuidaria da bengala para ela, das pedras de seu bolso. Mas também seguiria vivendo, recusando entregar minha caneta.”




LINHA M (2015)
AUTOR : PATTI SMITH
EDITORA: COMPANHIA DAS LETRAS
ISBN: 9788535926934