John William Cummigs era o típico garoto americano.
Gostava de basebol, rock’n’roll, colecionava cards e
estudava em um colégio militar. Em parte porque queria agradar seu pai, que na
juventude serviu no exercito, mas John era filho único e talvez por isso nunca
foi recrutado.Tentou a carreira no basebol mas também não deu certo. Por mais
que treinasse não conseguia se destacar entre os colegas.
Na adolescência cometeu alguns delitos, pequenos roubos e
vandalismos.Com o passar do tempo ficou mais violento e se meteu com drogas
pesadas.Sentia uma mistura de raiva e inconformismo. Foi preso algumas vezes
principalmente por se meter em brigas e posse de drogas. Ficou nessa vida
marginal por algum tempo até que um dia ele ouviu uma voz:
"Então, de repente, tudo mudou. Eu estava com 20 anos. Não sei
o que era, Deus talvez, mas não era algo que eu tivesse ouvido antes. A voz
perguntou: “O que você está fazendo com sua vida? É para isso que você está
aqui?” Foi um despertar espiritual. Fui para casa e parei de usar drogas, parei
de fazer todas aquelas coisas ruins e parei de beber. Não queria ficar sobre a
influencia do álcool nunca mais. Queria ficar totalmente sob controle."
Esse é o inicio da jornada de Johnny Ramone. Que começou a
trabalhar na área da construção civil, não por gostar do trabalho, mas era
seguro e uma maneira de guardar dinheiro para ter uma boa aposentadoria. E
durante toda a trajetória dos Ramones essa era a meta, ter uma boa
aposentadoria !
Johnny era um cara bem complexo; gostava de estar no
controle, objetivo e pratico sabia o que fazer e como fazer.Nos primeiros
capítulos do livro você percebe que ele era uma criança metódica e que
possivelmente tinha TOC !!! Tamanha a sua obsessão em colecionar e organizar
seus cards de beisebol. Tudo precisava estar no lugar e na ordem cronológica
correta. Odiava pessoas desorganizadas e coisas sem propósito.
Era um colecionador de agendas também e anotava tudo o que
achava importante.Gostava de fazer listas, melhores discos, livros, filmes,
jogadores de basebol ... E durante anos, antes de formar os Ramones, fez uma
serie de anotações, algumas mentais, sobre equipamentos, roupas, shows, como se
comportar no palco, erros e acertos das bandas que gostava e não gostava.
Queria que houvesse uma simetria no palco, uma coerência com
o visual, um uniforme, queria se diferenciar das outras bandas. Tinham que
conquistar seu espaço, derrotar a concorrência. Amigos para que? Amigos não
pagavam suas contas.
Ele era o comandante dos Ramones, isso é inquestionável.
Johnny via a banda como um trabalho a ser executado e ele
tinha que ser executado da melhor forma. A sua única preocupação era com os
fãs, eram eles que pagavam seu salário.
Essa maneira objetiva de ver as coisas servia para o bem e
para o mal.
Por ser o cérebro e líder, Johnny era persona non grata,
precisava dar ordens, controlar os colegas de banda para não beberem antes do
show e não se drogarem durante as turnês.Não gostava de groupies, não via
necessidade de ter amizade com outros músicos ou artistas. Ele era extremista
de muitas maneiras, mas sem isso, com certeza, o Ramones não passaria do
segundo álbum.Assim como aconteceu como várias bandas punks da época.
“Eu realmente não conversava com ninguém. Ia para o GBGB e
pensava: “Estou cercado por um bando de babacas”.(...) Eu não tinha amigos
envolvidos na cena musical.Estávamos trabalhando.O GBGB era onde eu
trabalhava.”
Se Johnny era o cérebro, Dee Dee era a alma dos Ramones.
E essa relação de amizade que virou animosidade é contada _
mais ou menos _ por Johnny durante todo o livro.Se você conseguir um exemplar do livro “Coração
Envenenado” biografia de Dee Dee, atualmente esgotada nas livrarias, terá mais
detalhes das eternas brigas e discussões de quem era o opressor e quem era o
oprimido. Fofocas a parte, Johnny ficava furioso ao ver Dee Dee sempre drogado
e o quanto isso afetava a banda, porque suas idéias e composições eram
essenciais para o grupo.
É interessante notar, que nos últimos anos da vida de
Johnny, ele demonstra sua consideração a pessoa e ao trabalho de Dee Dee, apesar
de algumas alfinetadas entre um elogio e outro.Coisa que não acontece com o
baterista Marky; que ele considerava um interesseiro e o vocalista Joey, que
foi ódio a primeira vista e seguiu assim até o fim da banda.
Engraçado saber que Johnny não fazia idéia da influencia dos
Ramones sobre outras bandas e o quanto ele era conhecido e admirado por seus
fãs.
O que ele considera apenas um trabalho, seria o seu grande legado para o
rock’n’roll.
O livro foi escrito quando Johnny estava em uma fase bem
avançada do seu câncer.
Você percebe que ele reflete sobre sua vida, as amizades e as pessoas que estão ao seu lado naquele momento. Mas
sem arrependimentos sobre suas atitudes, sem conselhos sentimentaloides ou
coisa do gênero.Objetivo e direto como sempre foi em sua vida e até o fim.
Isso
é ser punk!
COMMANDO - A AUTO BIOGRAFIA DE JOHNNY RAMONE (2012)
AUTOR : JOHNNY RAMONE
EDITORA : LEYA
ISBN : 9788580445749
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