quarta-feira, 7 de março de 2018

COMMANDO - A autobiografia de Johnny Ramone




John William Cummigs era o típico garoto americano.
Gostava de basebol, rock’n’roll, colecionava cards e estudava em um colégio militar. Em parte porque queria agradar seu pai, que na juventude serviu no exercito, mas John era filho único e talvez por isso nunca foi recrutado.Tentou a carreira no basebol mas também não deu certo. Por mais que treinasse não conseguia se destacar entre os colegas.

Na adolescência cometeu alguns delitos, pequenos roubos e vandalismos.Com o passar do tempo ficou mais violento e se meteu com drogas pesadas.Sentia uma mistura de raiva e inconformismo. Foi preso algumas vezes principalmente por se meter em brigas e posse de drogas. Ficou nessa vida marginal por algum tempo até que um dia ele ouviu uma voz:

"Então, de repente, tudo mudou. Eu estava com 20 anos. Não sei o que era, Deus talvez, mas não era algo que eu tivesse ouvido antes. A voz perguntou: “O que você está fazendo com sua vida? É para isso que você está aqui?” Foi um despertar espiritual. Fui para casa e parei de usar drogas, parei de fazer todas aquelas coisas ruins e parei de beber. Não queria ficar sobre a influencia do álcool nunca mais. Queria ficar totalmente sob controle."    
  
Esse é o inicio da jornada de Johnny Ramone. Que começou a trabalhar na área da construção civil, não por gostar do trabalho, mas era seguro e uma maneira de guardar dinheiro para ter uma boa aposentadoria. E durante toda a trajetória dos Ramones essa era a meta, ter uma boa aposentadoria !

Johnny era um cara bem complexo; gostava de estar no controle, objetivo e pratico sabia o que fazer e como fazer.Nos primeiros capítulos do livro você percebe que ele era uma criança metódica e que possivelmente tinha TOC !!! Tamanha a sua obsessão em colecionar e organizar seus cards de beisebol. Tudo precisava estar no lugar e na ordem cronológica correta. Odiava pessoas desorganizadas e coisas sem propósito.

Era um colecionador de agendas também e anotava tudo o que achava importante.Gostava de fazer listas, melhores discos, livros, filmes, jogadores de basebol ... E durante anos, antes de formar os Ramones, fez uma serie de anotações, algumas mentais, sobre equipamentos, roupas, shows, como se comportar no palco, erros e acertos das bandas que gostava e não gostava.

Queria que houvesse uma simetria no palco, uma coerência com o visual, um uniforme, queria se diferenciar das outras bandas. Tinham que conquistar seu espaço, derrotar a concorrência. Amigos para que? Amigos não pagavam suas contas.

Ele era o comandante dos Ramones, isso é inquestionável.
Johnny via a banda como um trabalho a ser executado e ele tinha que ser executado da melhor forma. A sua única preocupação era com os fãs, eram eles que pagavam seu salário.

Essa maneira objetiva de ver as coisas servia para o bem e para o mal.
Por ser o cérebro e líder, Johnny era persona non grata, precisava dar ordens, controlar os colegas de banda para não beberem antes do show e não se drogarem durante as turnês.Não gostava de groupies, não via necessidade de ter amizade com outros músicos ou artistas. Ele era extremista de muitas maneiras, mas sem isso, com certeza, o Ramones não passaria do segundo álbum.Assim como aconteceu como várias bandas punks da época. 

“Eu realmente não conversava com ninguém. Ia para o GBGB e pensava: “Estou cercado por um bando de babacas”.(...) Eu não tinha amigos envolvidos na cena musical.Estávamos trabalhando.O GBGB era onde eu trabalhava.” 



Se Johnny era o cérebro, Dee Dee era a alma dos Ramones.
E essa relação de amizade que virou animosidade é contada _ mais ou menos _ por Johnny durante todo o livro.Se você conseguir um exemplar do livro “Coração Envenenado” biografia de Dee Dee, atualmente esgotada nas livrarias, terá mais detalhes das eternas brigas e discussões de quem era o opressor e quem era o oprimido. Fofocas a parte, Johnny ficava furioso ao ver Dee Dee sempre drogado e o quanto isso afetava a banda, porque suas idéias e composições eram essenciais para o grupo.

É interessante notar, que nos últimos anos da vida de Johnny, ele demonstra sua consideração a pessoa e ao trabalho de Dee Dee, apesar de algumas alfinetadas entre um elogio e outro.Coisa que não acontece com o baterista Marky; que ele considerava um interesseiro e o vocalista Joey, que foi ódio a primeira vista e seguiu assim até o fim da banda.

Engraçado saber que Johnny não fazia idéia da influencia dos Ramones sobre outras bandas e o quanto ele era conhecido e admirado por seus fãs.
O que ele considera apenas um trabalho, seria o seu grande legado para o rock’n’roll.

O livro foi escrito quando Johnny estava em uma fase bem avançada do seu câncer.

Você percebe que ele reflete sobre sua vida, as amizades e as pessoas que estão ao seu lado naquele momento. Mas sem arrependimentos sobre suas atitudes, sem conselhos sentimentaloides ou coisa do gênero.Objetivo e direto como sempre foi em sua vida e até o fim. 
Isso é ser punk! 


COMMANDO - A AUTO BIOGRAFIA DE JOHNNY RAMONE (2012)
AUTOR : JOHNNY RAMONE
EDITORA : LEYA 
ISBN : 9788580445749

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