Algumas pessoas acreditam em Deus, outras na sorte, algumas
gostam de usar frases “nada acontece por acaso” ou “foi obra do destino”.
A jovem Patrícia Lee era uma adolescente sonhadora no final da década de 1960. Amante dos livros e da poesia, chegou a
ser ameaçada pelas colegas de trabalho, um grupo de mulheres duras e alfabetas, foi chamada de comunista por ler Rimbaud, um autor estrangeiro. Patti não pertencia ao lugar que nasceu, Nova
Jersey, precisava sair daquela cidade o mais rápido possível. Aos dezoito anos teve um
filho que deu para a adoção e um ano depois, diante da estátua de Joana d’Arc, fez uma promessa
para a Santa e para a criança que jamais conheceria; seria alguém na vida.
Aos 20 anos Patti decide ir para Nova York.
E é agora que a mão de Deus ou a obra do destino acontece
pela primeira vez em sua vida. Ao chegar na estação percebe que o preço da passagem é maior
do que ela poderia pagar, sem dinheiro, resolve ligar para sua irmã. E agora? Pedir
ajuda para voltar para casa e sentir a vergonha da derrota?
Ela entra na cabine telefônica:
“Mas ali mesmo, na
prateleira embaixo do telefone, entre as grossas paginas amarelas, havia uma
carteira branca de couro. Continha um medalhão e trinta dólares, quase uma
semana de pagamento do meu ultimo emprego. Contrariando meu melhor juízo, peguei o dinheiro mas deixei
a carteira no guichê das passagens na esperança de que a dona pelo menos viesse
procurar o medalhão. Não havia nada ali que revelasse a identidade dela. Só posso
agradecer, como tenho feito comigo mesma muitas vezes ao longo dos anos, essa
benfeitora desconhecida, foi o sinal de boa sorte de uma ladra. Aceitei a doação
da pequena carteira branca como a mão do destino me empurrando para
frente.”
Quando chega em NY, Patti não encontra seus amigos. Por
algumas semanas dorme na rua, em parques, trens do metro e até em cemitérios.
Divide sanduíches de pão com alface com um morador de rua e passa fome também. A cidade de NY que
Patti nos transporta é caótica e decadente, mas não violenta, Era a época em
que John Lennon pedia uma chance para a paz, os beatniks tomavam conta dos
bares e também do LSD e da maconha.
A efervescência cultural e musical estavam em seu ápice e
também na inevitável curva da queda. Logo o Flower Power morreria e o Punk Rock
tomaria conta da cidade, e depois do mundo. E Patti Smith será uma das maiores responsáveis por essa mudança.
Um Amor Para Toda a Vida
Já li muitas biografias de músicos, mas até hoje a de Patti
Smith foi a que mais me emocionou. Patti sempre seguiu seus sonhos, passou por
situações difíceis e nunca se colocou como vitima. Sempre se
posicionou como uma artista, fugiu dos estereótipos de beleza, foi a voz de uma
geração que não acreditava mais em promessas e precisava de uma nova direção.
O livro “Só Garotos”, é uma bela história de amor entre ela
e seu amante/amigo Robert Mapplethorple, uma relação de amizade que durou até a
morte de Robert em 1989.
O livro foi uma promessa que ela fez para Robert antes dele morrer, contaria a historia dos dois. E só podemos agradecer por ela
cumprir esta promessa.
Eram dois jovens perdidos na cidade grande, produzindo arte
de várias formas até encontrar seus caminhos. Aconteceram muitos encontros e desencontros,
“casamento de mentira” para agradar os pais, a primeira separação do casal,
devido ao interesse de Robert por conhecer o submundo do sadomasoquismo e homossexualismo. A volta da relação, o
companheirismo e a eterna devoção mútua como artistas e amigos.
“Ambos descobrimos que queríamos demais. Só éramos capazes
de doar a partir da perspectiva do quem éramos e do que cada um tinha a
oferecer. Separados, fomos capazes de enxergar com mais clareza que um não
queria mais ficar sem o outro.”
Há alguns anos especularam fazer uma adaptação para um
filme, agora os boatos são sobre um seriado. Acredito que seria interessante adaptar o livro sim, porque muitas coisas acontecem não só na vida dos dois, como ao
redor deles.O Hotel Chelsea, quase um personagem no livro, por exemplo, poderia ser um filme a parte. Mas nada
se compara a experiência de acompanhar
Patti Smith em sua jornada de vida e descobertas através de suas próprias palavras.
Só
Garotos (2010)
Autor:
Patti Smith
Editora:Companhia
das Letras
ISBN : 9780060936228
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