O fim é o começo do livro.
O fim de uma banda, de um casamento e de uma carreira musical.
Um bom começo para um livro e também um começo bem triste.
Quando você assiste ao show após ler o
primeiro capitulo e percebe as emoções que passaram desapercebidas pelo publico, é impossível não tirar os olhos da garota da banda.
Segundo Kim Gordon : “Alguém me disse que o show inteiro de
São Paulo está on line, mas eu nunca vi e não quero ver.”
Você percebe uma certa frustração em suas atitudes e a
angustia para deixar aquele palco o mais rápido possível, quando Kim começa a
cantar primeiro sua voz embarga, depois ela grita a todos os pulmões, algo está
acontecendo mas você só irá entender depois de quatro anos quando sua biografia
“Girl In a Band” é lançada.
Tenho que confessar, nunca fui fã do Sonic Youth, fugia
muito do rock que eu ouvia na época, Stone Roses, Teenage Fanclub,
Tindersticks, The Cure, The Clash, Bauhaus, R.E.M ...
Sempre achei Sonic Youth muito barulhento, tinha aqueles
“lances” de jazz experimental, não entendia as letras, enfim... Mas uma coisa
sempre me chamou atenção; a baixista. Quem era ela e por que estava em uma
banda como aquela? Ah, ela é casada com o vocalista !! Não, não era só isso, ela
se vestia de uma maneira legal, diferente, não forçava ser uma mulher sexy, na
verdade nem sorria !
Nos anos 1990, a Mtv Brasil começou a tocar sem parar “100%”
e “Sugar Cane”. Era o começo do grunge, do rock de Seatle ou similares,
acredite, mais da metade da programação da Mtv naquela época era rock
alternativo, velhos tempos...
Com o sucesso, ou a maior exposição pela mídia, como Kim
Gordon descreve no livro, os problemas dentro de seu casamento começam. Conhecer
os bastidores dessa época é muito legal, a amizade deles com o Nirvana, os festivais, as dificuldades que a banda teve para divulgar seu trabalho. Parece que foi ontem, só que já se
passaram mais de 20 anos !!
Kim nos conta sobre sua infância, a vontade de ser artista,
um relacionamento complicado com seu irmão esquizofrênico, seu envolvimento com
a pintura.Sobre seu ex marido Thurston Moore, parece que ela omite um
pouco sobre o começo do romance (um certo ressentimento?) conta sobre como
descobriu a traição, mas é bem discreta sobre o processo traumático da separação.
O melhor foi conhecer um pouco mais sobre a garota que
ficava em um canto do palco tocando seu baixo, seus pensamentos, conhecer a
mulher que ela se tornou após tantas experiências dentro deste mundo quase que
exclusivo dos homens.
“Em um nível mais pessoal,“Shaking Hell” espelha bem minha
luta contra minha própria identidade e a raiva que sentia sobre quem eu era.
Toda mulher sabe o que quero dizer quando digo que as meninas crescem com um
desejo de agradar, de ceder seu poder para outras pessoas. Ao mesmo tempo, todo
mundo conhece os modos às vezes agressivos e manipuladores com os quais os
homens muitas vezes exercem poder no mundo, e como, ao usar a palavra
empoderamento para descrever as mulheres, os homens estão simplesmente mantendo
seu próprio poder e controle. Anos depois de sair de L.A, eu ainda podia ouvir
a voz do louco do meu irmão no meu ouvido, sussurrando: Eu vou dizer a todos os
seus amigos que você chorou.”
Muitos momentos são bem reveladores e emocionantes, uma
biografia que merece ser lida, seja você fã ou não do Sonic Youth.
A Gorota da Banda (2015)
Autor: Kim Gordon
Editora: Fabrica 231
ISBN : 9788568432358