Sonhos Elétricos – O Livro
As histórias de PKD são bem peculiares, até mais do que os
de outros romancistas de ficção científica.Não se trata apenas de carros
voadores, lasers ou robôs, o fator humano em sua obra é o principal; os
conflitos, os sonhos, as decepções, a ( i ) mortalidade e a loucura.
Quando alguém que nunca leu PKD me pergunta por qual livro
deve começar eu sempre indico “UBIK” e “Realidades Adaptadas”, agora posso
acrescentar “Sonhos Elétricos” para a lista.
>>> Em breve: Guia de Leitura PKD aguardem !!!
>>> Em breve: Guia de Leitura PKD aguardem !!!
Em sua vida, Philip K Dick escreveu mais de 120 contos e 36
romances. Ele escrevia compulsivamente, em parte para poder pagar suas contas e
também para colocar todos aqueles mundos para fora da sua mente. Uma mente
habitada tanto por fantasmas do passado quanto do futuro.
Ao ler “Sonhos Elétricos” você irá encontrar algumas de suas
inquietações, sobre a guerra nuclear, o consumismo, a invasão de privacidade,
aceitar a realidade que nos cerca ou procurar por uma outra. Aquela velha
duvida: tomar a pílula azul ou a vermelha?
Até hoje não consegui encontrar nenhum escritor com a mesma
loucura/genialidade de PKD. Diferente de Asimov, que era um cientista e trazia
para a sua obra previsões mais tecnológicas, ou mesmo Arthur C Clarke que tinha
uma pegada mais espiritual; talvez você encontre uma similaridade com a obra de
Ursula K LeGuin que usava como fundo a ficção cientifica para escrever sobre
assuntos mais profundos sobre a humanidade e seu futuro.
Não vou fazer a resenha de conto por conto.Você pode
encontrar isso em outros sites que possivelmente irão atrapalhar mais que
ajudar. No artigo em que faço um comparativo entre os contos e as adaptações
apenas resumo as histórias, nada que interfira na sua futura
leitura. Uma dica: leia com a mente limpa e aberta, assim você consegue viajar
durante todo o livro. Basta dizer que todos os contos são ótimos, e com certeza
você vai escolher os seus preferidos ao final do livro. Os meus destaques vão
para: “Humano É”, “O Passageiro habitual”, “Argumento de venda”, “O planeta
Impossível” e “Foster, você já morreu”. A única exceção foi “Autofab”, o conto
que menos me cativou e que até ficou bem adaptado para a série. Mas isso você
vai ler daqui a pouco!
Pergunta : É preciso ler o livro antes de ver a série ?
Resposta : Não. São experiências bem diferentes.Mas sabe
aquela velha frase: O livro é melhor...vale para este caso.
Pergunta : É tão ruim assim?
Resposta : Ficou razoável , acredito que os 10 diferentes
diretores quiseram deixar sua “assinatura” e muitos perderam a mão e não
respeitaram o texto original ou não foram coerentes com a obra de PDK
Pergunta : Vai ter spoilers nos comentários?
Resposta : Quem sabe...
Electric
Dreams - A série
A difícil arte de adaptar
Não deve ser fácil ser roteirista.
O roteirista precisa se “apropriar” da obra do escritor para adapta-la ao cinema, série ou um episodio com menos de uma hora, sem tirar
seus elementos principais e personagens. É preciso ser fiel a história e ao
mesmo tempo acrescentar ou retirar algumas partes. Um cirurgião plástico usa procedimentos bem parecidos, mas como já sabemos, existem as
boas plásticas e aqueles que são um desastre total.
No livro “Sonhos Elétricos”, antes de cada conto, você
encontra as explicações de cada roteirista de como o processo foi feito; o que
foi mantido do texto original, as mudanças e adaptações. Recomendo ler após ver
cada episódio, mas fique a vontade caso queira ler antes!
Aqui está a lista dos melhores aos piores >>
*** Boa adaptação
** Ok , dá para encarar
* Só se você
estiver com tempo sobrando
*** Kill All Others (O enforcado desconhecido)
Homem sai na rua e vê corpo pendurado em um poste. As
pessoas passam por perto e nem ligam. Incomodado com a situação ele começa a
questionar os amigos, vizinhos e a sua mulher.Todos dizem para ele deixar isso
para lá e não se importar. A adaptação foi bem inteligente em colocar o dedo na ferida
em temas atuais como a política, o ódio gratuito pelo diferente, pelo
estrangeiro e o medo da vigilância digital. Ficou com uma cara de episódio do Black Mirror, e ficou
muito bom.
É sério que vocês não estão vendo esse outdoor ? |
*** Human Is (Humano é)
Marido violento e opressor, sai em missão a
outro planeta e quando volta está totalmente diferente.Existe a possibilidade
de um alienígena ter invadido seu corpo para poder sobreviver na colônia
humana. Cabe a sua mulher denunciar ou não seu “novo” marido, que agora está
atencioso e romântico, algo que ela nunca teve antes. A adaptação não mudou muito, existe o acréscimo de alguns
elementos na história mas elas fazem sentido dentro do episodio. E temos nosso
eterno Walter White, o ator Bryan Cranston no papel principal e com direito a
cena sensual !
Loving the Alien |
*** Impossible Planet (Planeta Impossível)
Senhora idosa, surda e com a saúde bem debilitada tem um
ultimo desejo: conhecer o planeta Terra. Ela contrata dois pilotos não muito
honestos para fazer essa viagem, mas os próprios pilotos não sabem as
coordenadas para a Terra e procuram por algum planeta similar, para assim
enganar a senhora e ficar com seu dinheiro. A estrutura principal do conto ficou e também seu
final. Alias, é um dos mais curtos do livro, e a adaptação virou uma história de
amor. Não, não ficou ruim, foi uma solução bem pensada e talvez esse seja seu
maior ponto positivo.
*** Safe
and Sound (Foster, você ja morreu)
Em um futuro onde a Guerra Fria não acabou e a possibilidade
de uma ataque nuclear pode acontecer a qualquer momento, todas as famílias possuem
abrigos nucleares, menos a família de Foster. Seu pai é totalmente contra
comprar um abrigo porque ele acredita que a Guerra Fria não existe mais e os
abrigos são muito caros e desnecessários. Enquanto isso, Foster sofre bullyng
na escola e vive um medo constante de morrer porque não tem onde se abrigar durante um ataque.
Os roteiristas trazem a mesma história para o tempo atual e
as mudanças são enormes: Foster agora é uma adolescente, no lugar da bomba
temos os terroristas; o pai vendedor de móveis virou uma mãe ativista política
e o abrigo nuclear é um superhiperplus incrível celular que todos precisam ter
por “segurança” pessoal e da comunidade. Outro episódio que ficou com cara de
Black Mirror mas respeita a essência da obra de PKD
Nem Steve Jobs deve ter imaginado um celular igual a esse ! |
** The Commuter (Passageiro habitual)
Bilheteiro de uma estação de trem vê um homem desaparecer na
sua frente depois de dizer que a cidade que ele quer comprar a passagem não
existe. Após alguns dias o mesmo homem reaparece pedindo a mesma passagem, o
bilheteiro começa a questionar onde é esse lugar e quando diz ao homem que tal
cidade não existe, o homem desaparece novamente. Não vou contar mais se não vira
spoiler... Um conto que precisava apenas de uma modificação: ao invés de
investigar sobre a cidade em uma biblioteca a pesquisa seria feita pela internet.
Pronto, só isso ! Todos os elementos de fantasia, diálogos e personagens estão
perfeitos. A adaptação virou um melodrama espírita/tecnológico sem sentido.O
que salva é a atuação de Timothy Spall, se não fosse por ele o episódio seria
até mais fraco.
** Autofac (Autofab)
Uma fábrica autônoma, que funciona apenas por robôs
controlados por uma inteligência artificial, produz mais produtos do que as
pessoas conseguem consumir e está esgotando os recursos naturais do planeta.Um
grupo de pessoas vai tentar enganar essa IA para poder destruir a fábrica.O
conto original é um pouco confuso e talvez o menos cativante em termos de
história e personagens. Aparentemente o roteirista Travis Beacham achou o mesmo
quando diz que :“Autofab” não era o conto que pretendia adaptar de inicio” mas
conseguiu fazer um bom trabalho.
** The Hood
Maker (O fabricante de gorros)
No futuro a policia usa os telepatas, ou teeps, para ler as
mentes de possíveis inimigas do governo que querem causar caos ou rebeliões.Os
“gorros” são bloqueadores contra os teeps, e estão sendo enviados para pessoas
aleatórias por toda cidade.Um movimento contra a invasão de pensamentos se
espalha pela cidade ao mesmo tempo que os teeps querem tomar o controle da
coisas e eliminar as pessoas normais. Aqui temos um conto clássico de PKD que
revisita o assunto de telepatia, os exemplos mais conhecidos são os precogs de
“Minority Report” e em sua versão anterior, em UBIK.
Novamente, e até hoje não entendo porque gostam tanto de
incorporar histórias de amor nos contos ! Aqui temos um romance entre uma teep,
Honor e o investigador de policia, Ross. Existe a mudança de perspectiva pelo
ponto de vista da telepata, ficou bom mas não ficou incrível.
The Hood Maker : vários "easter eggs" da obra de PKD espalhados pela episodio |
E aqui vai o premio para pior adaptação >> difícil escolher
qual é o mais sem noção.
O site IMDb deu até umas notas ok... mas...sem chance! Por
isso fica a dica, leia os contos, você vai gostar muito mais
* Real Life (Peça de Exposição)
Só pela introdução feita pelo roteirista você sabe que deu
merda: “Resta muito pouco do conto no episódio...” Na verdade não restou nada,
ficou uma mistura de “Vingador do Futuro”com alguma serie policial de
investigação bem fraquinha.Chega até a dar sono de tão arrastada e confusa.Os
experientes atores Anna Paquin e Terrence Howard não seguram o episodio e parecem que caíram de pára-quedas na
história.
* Crazy Diamond (Argumento de Venda)
Outra grande decepção, porque o conto é tão bom e com
momentos em que você pode até rir de nervoso com algumas situações. Quem
adaptou foi Tony Grisoni (Medo e delírio em Las Vegas, Mindhunters) e tem até o
esquisito que amamos, Steve Buscemi. Era quase certo que seria um bom
episódio... só que não.Foi até difícil reconhecer qual conto tinha sido
adaptado, uma mistura de elementos da obra de PKD com filme noir, alguma coisa
kitsch dos anos 70, pesquisa genética e um final totalmente incoerente. Tem que
ter muita paciência até chegar o final.
* The
Father Thing (A coisa-Pai)
Ok, o conto não é um dos melhores ou mais originais de PKD ,
mas dava para fazer uma adaptação no mínimo decente. Acrescentaram um mini
drama desnecessário entre pai e filho, umas crianças totalmente deslocadas
dentro da trama e uma narrativa muito lenta e introspectiva sem
propósito.Parece aqueles filmes bem chatinhos com crianças que passam na Seção
da Tarde, a diferença é que temos alienígenas invasores de corpos.Dos três
piores é o menos pior, mas continua sendo chato.
Para quem leu até o final dessa enorme resenha, meu muito
obrigada !!! Volte sempre ;)
SONHOS ELETRICOS
AUTOR : PHILIP K DICK
EDITORA : ALEPH
ISBN : 9788576573975