Joe Strummer era o cara.
Ele tinha o estilo, a atitude e a determinação. Podemos
dizer que Joe era uma mistura de Jonnhy Cash com Albert Camus, porque Joe não
era só um punk rocker, ele também era um grande pensador.
E falava o que pensava, mesmo que isso custasse magoar os
amigos durante o processo, o que aconteceu várias vezes durante sua vida.
Sua sinceridade era confundida com arrogância e até
indiferença, mas Joe se importada com
todos, com as minorias, com a política, as injustiças sociais e com o
mundo.
Joe the Man in Black |
A biografia "Redemption Song" _ainda inédita no Brasil_ tem mais de 600 paginas e pode parecer intimidadora
a primeira vista, mas o jornalista Chris Salewics consegue amarrar as
histórias, depoimentos, fatos e lendas, tanto da banda The Clash quanto da vida
pessoal de Joe Strummer.
A biografia começa pelo final, no dia do funeral de
Strummer. Possui alguns detalhes dispensáveis sobre as pessoas que estavam
presentes, muitas nem eram amigas do cantor, mas as homenagens eram sinceras,
porque Joe era a voz do punk rock, o ídolo e o líder de um movimento que ainda
resistia de alguma maneira no final dos anos 1980 e que só voltaria a dar as
caras em uma nova versão uma década depois em Seatle, mas isso é uma outra
história...
Aos 50 anos Joe voltou ao estúdio e aos palcos depois de um
hiato de alguns anos com sua nova banda banda: The Mescaleros.
Durante esses anos sombrios, consumiu muito álcool e foi consumido pela depressão.Culpava-se de participar do vergonhoso fim do The Clash e ter expulsado seu amigo e
parceiro Mick Jones da banda. Todas as tentativas anteriores de uma carreira
solo foram um fracasso: uma trilha sonora que não foi bem aproveitada, um álbum
solo feito para o esquecimento e o anonimato dos anos seguintes.
Mas aos poucos sua vida voltava aos eixos. As pessoas queriam
ouvir o que ele pensava e as inimizades com os outros integrantes do The Clash
agora eram coisa do passado. Joe e Mick se encontraram novamente e fizeram as
pazes. Existia a possibilidade de voltarem pelo menos para um reencontro? Era
provável, quase possível. O ultimo registro do quase retorno foi feito um mês
antes da morte de Joe em novembro de 2002, onde ele e Mick Jones cantaram
“White Riot” e “London Burning” em um show beneficente para os bombeiros. >> Assista!! >>
"Um babaca me disse que eu parecia o Joe Strummer. Eu disse, sou eu mesmo.Ele disse, vai sonhando. |
Lembro até hoje quando soube da noticia de sua morte e meu
único pensamento foi: “Que merda...nunca vou ver o Clash ao vivo...”
Foi tudo
muito rápido e inesperado, para fãs, amigos e parentes. Três dias antes do
Natal, sofre um ataque fulminante do coração, esse era Joe, sempre intenso em
sua vida e também em sua morte.
Nascido John Graham Mellor, antes de ser conhecido por
Strummer, Joe em sua época hippie pedia para todos o chamarem de Woody. Até os
amigos mais próximos não sabiam qual era o seu verdadeiro nome! E Joe fazia
questão de criar uma áurea de mistério ao seu redor. Não chegava a mentir, mas
com certeza omitia sobre seu passado, principalmente quando foi morar nas
comunidades ocupadas pelos sem teto em Londres.
Sua família não era rica, mas por conta do trabalho de
diplomata de seu pai, Joe estudava em bons colégios e viajava para o exterior
nas férias muito mais que seus colegas. Não era o melhor aluno da turma,
gostava de livros, era questionador, gostava de tocar um terror e possivelmente
tinha déficit de atenção. Mas existia uma razão para sua crescente revolta e mal comportamento.Joe e seu irmão mais
velho David, só encontravam com seus pais durante as férias do internato uma
vez ao ano. E mesmo estudando no mesmo colégio, Joe não tinha contato com seu irmão
por estarem em diferentes séries e dormitórios. Aos 9 anos o pequeno John
aprende que precisa se defender sozinho: é bater ou apanhar, ele escolhe a
primeira opção.Vira o líder de uma gangue, ele é o bully, o pior aluno da
escola e seu futuro é incerto.
O ponto de virada na vida de Joe acontece com o suicídio de
David em 1970, quando teve que reconhecer o corpo de irmão, que havia
desaparecido há vários dias e fora encontrado no lago do London’s Regent Park.
Joe e seu irmão David |
Joe se afasta dos pais, começa a estudar na faculdade de
artes e vive como um cigano, morando de favor na casa de conhecidos ou
namoradas. Consegue alguns trabalhos temporários em fabricas e tenta até ser
coveiro mas é despedido no mesmo dia porque estava dormindo em uma cova que não
conseguiu terminar.
Tinha tudo para dar errado na vida de Joe, mas ele era
determinado, cabeça dura e ambicioso. Era seguir em frente ou morrer.
Ele consegue reunir um grupo de amigos e monta uma banda
chamada “The 101’ers”, uma mistura de rock/pop/folk clássico sem muito futuro.
Joe sabia disso, porque todo o cenário da época estava mudando e a juventude
paz amor estava com os dias contados. Havia o desemprego, pessoas morando nas
ruas, conflitos raciais e o londrinos enfrentavam cada vez mais a violência nas
ruas principalmente por parte das autoridades.
A musica era a válvula de escape para os jovens que não viam
futuro em suas vidas.E após assistir a um show dos Sex Pistols, Joe decidiu que
esse era o tipo de musica que iria fazer.Em pouco tempo foi convidado para ser
o vocalista de uma banda que o mundo iria reconhecer como uma das melhores
banda punk de todos os tempos: The Clash.
The Clash, 1977 foto Adrian Boot |
O resto nós já sabemos, ou melhor, você pensa que sabe até
ler a biografia “Redemption Song”, considerada a melhor biografia de rock e a
definitiva do cantor.
Amigo próximo de Joe e dos outros integrantes do Clash, o
jornalista Chris Salewics, viveu e registrou muito bem o começo do punk na
época em que trabalhou para a NME em sua era de ouro nas décadas de 1970 e
1980. A revista semanal de rock New Musical Express foi a pioneira em descobrir
novas bandas para o publico, além de servir de fonte e referencia para
programas de radio e televisão.
Como em todas as biografias temos pontos positivos e
negativos. O positivo: a amizade de Chris com Joe faz com que você conheça mais
histórias de bastidores e mais detalhes de sua personalidade; um cara
determinado e ao mesmo tempo inseguro, apaixonado por mulheres e bebida, sempre
polemico e instigador durante as entrevistas.
O ponto negativo: amizade; porque Chris divaga em alguns
momentos e muitas vezes ele tenta “passar um pano” nas atitudes de Joe, que
era um cara legal mas também não
pensava duas vezes em deixar algum amigo de lado para conseguir seus objetivos.
Errar é humano, e anos mais tarde, Joe admitiu publicamente suas falhas ao
seguir os conselhos estúpidos do empresário fascista Bernie Rodhes, que
“sabia o que era melhor” para o The Clash.
Joe sempre foi um idealista, um entusiasta, queria um mundo
melhor para todos.Um grande compositor que gostava de colocar o dedo na
ferida, sempre questionando o sistema, pedindo para que os jovens tomassem
alguma posição.
Ele sempre buscou a fama, mas não por causa do dinheiro, ele
queria ser ouvido, queria passar a mensagem de que você deveria conhecer seus
direitos, que nenhum homem nascido com alma pode trabalhar para o sistema e que
todo pacificador vira um oficial de guerra no final. Ele chamou Londres e o
resto do mundo para a guerra declarada, contra as injustiças, preconceitos e
conformismo.
O recado foi passada através de suas musicas e entrevistas,
até o fim de sua vida, Joe Strummer foi fiel aos seus princípios e honesto com
seus fãs.Esse foi seu maior legado e não podemos deixar ele ser
esquecido.
JOE STRUMMER _ REDEMPTION SONG THE DEFINITIVE BIOGRAPHY (2006)
AUTOR : CHRIS SALEWICZ
EDITORA : Harper Collins Publishers UK
ISBN : 9780007172122
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