“Não é tão fácil escrever sobre o nada” diz o Cowboy para a
escritora, o sonho em que eles se encontram pode ser tanto da escritora quanto
do Cowboy, quem pode dizer? Antes que o sonho acabe ele conclui: “O escritor é
o condutor”
E assim, a partir deste ponto, que Patti Smith nos conduz em seu
livro
“Linha M” (mental train ou mind train). A viagem começa no Café‘Ino,
onde Patti nos convida para tomar um café preto com torradas e azeite e
contar um pouco da sua vida. Seus
escritores favoritos, falar sobre literatura japonesa, relembrar um pouco de
seu passado, seu marido já falecido, sua obsessão por seriados policiais e
mostrar algumas de suas fotos Polaroid.
Uma das maiores qualidades de Patti Smith como escritora
(assim como em todo sua carreira como compositora/poeta) é a sua maneira
despretensiosa e ao mesmo tempo poética de contar uma história e passar a
mensagem de forma simples, bela e clara.
O livro pode ser descrito como um diário que não segue uma
linha cronológica. São idas e vindas entre o passado e o presente. E é através
das fotos, que segundo Patti "são como as medalhinhas que os peregrinos colocam
em seus rosários", que acompanhamos esta peregrinação para os túmulos dos
escritores que ela tanto admira: Rimbaud, Genet, Plath e Brecht. “Eu tenho pilhas de fotos Polaroid, cada uma
marcando meus passos, que às vezes espalho como cartas de tarô ou figurinhas de
beisebol de uma imaginaria equipe celestial”.
Muitas passagens do livro são quase oníricas; o Cowboy dos
sonhos de Patti aparece algumas vezes durante a jornada, lembrando mais um guia
espiritual do que apenas um fruto imaginário de um sonho, alguém que a atormenta e
também dá conselhos.
Patti Smith escreve sobre as pequenas coincidências que
acontecem em sua vida: datas, lugares, livros, perder e achar coisas
misteriosamente. Sua pequenas obsessões por cadeiras, canetas,
objetos que se tornam talismãs.Coisas que possuem vida própria e precisam
voltar para seu local de origem ou desaparecer para sempre.
Detalhes do cotidiano que nós não damos mais
importância.
Estar atento aos recados que o mundo quer dar: conversas com um
estranho na rua, se desapegar das coisas materiais, guardar as boas memórias em
nossas mentes e corações.
Ao ler “Linha M” tente compara-lo a uma boa xícara de café,
deguste aos poucos, tente sentir os aromas e nuances de cada capitulo sem pressa porque o
livro tem só 206 paginas e acaba muito rápido. E acredite, você não vai querer
que ele termine tão cedo.
“Como ficamos tão velhos? Pergunto ás minhas articulações,
ao meu cabelo cor de ferro. Agora já estou mais velha que meu amor, que meus
amigos que já se foram. Talvez eu viva tanto que a Biblioteca Publica de Nova
Yorke seja obrigada a me ceder a
bengala de Virginia Woolf. Eu cuidaria da bengala para ela, das pedras de seu
bolso. Mas também seguiria vivendo, recusando entregar minha caneta.”
LINHA M (2015)
AUTOR : PATTI SMITH
EDITORA: COMPANHIA DAS LETRAS
ISBN: 9788535926934
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