Aos 13 anos li meu primeiro livro “adulto”: “Christine”, uma
edição de banca de jornal da Nova Cultural, depois “A incendiária”, “Carrie”,
“O Iluminado”...
Com 15 anos comecei a pegar emprestado os livros do SK na
biblioteca: “A Coisa” parte 1 e 2 (isso mesmo), “A Hora do Vampiro”, “Os
Estranhos” e um dia a bibliotecária me disse: “Acho que esses livros não são
para sua idade!”
Não importava, eu era uma transgressora!!! Ler sobre assuntos
que ninguém da minha turma queria saber, por medo ou mesmo falta de interesse.
Violência, morte, demônios, loucura, fantasmas, terror, horror ... cheguei até
a cogitar em não devolver nunca mais “As 4 estações” !!! Mas não fui tão
rebelde assim...
Tente imaginar um mundo sem internet, tv a cabo, revistas
importadas...
Assim era o começo dos anos 1990.
Descobrir quem era meu autor
preferido não foi fácil, as únicas fontes de informação eram
as poucas entrevistas em revistas
nacionais e jornais e se desse sorte ver uma
matéria no “Fantástico”...sério!!. E foi a partir delas que me dei conta que
Stephen King poderia ser meu vizinho, um professor ou o cara que você encontra no
supermercado...por mais estranho que pareça, ele é um cara normal.
A biografia não autorizada “Coração Assombrado” de Lisa
Rogak, é uma das melhores biografias sobre Stephen King até hoje.
A autora faz uma compilação de entrevistas para jornais, revistas e
televisão, coloca tudo em ordem cronológica e narra a historia de forma fluida e
leve.
O livro é uma ótima fonte de
informação sobre Mr. King que alias sempre foi um livro aberto e nunca escondeu seus medos: do escuro, de aranhas, da porta do
armário aberta, palhaços ... e seus vícios; uso continuo de álcool e drogas
durante os anos de 1980.
A coisa foi tão séria que até hoje SK não se lembra de
ter escrito “Cujo”, por exemplo.
Uma das polemicas que envolveram o escritor aconteceu no final
dos anos 1990, quando SK resolveu retirar do mercado o livro “Rage”, por achar que
poderia ser usado como “manual” por algum maluco de plantão.
Sobre a violência em seus livros ele deixa claro:
“Não acredito que alguma vez algum garoto tenha sido
influenciado a um ato de violência por um Cd do Metallica, Marylin Mason ou um
livro do Stephen King, mas acredito que essas coisas podem atuar como
aceleradores. Aqui nos Estados Unidos existe a disponibilidade das armas. As
armas são o cerne da questão. Existe uma cultura de violência no pais, e eu
seria a ultima pessoa a negar que faço parte dela, mas eu sou apenas um filho
da nossa cultura.”
Stephen King já foi
criticado por ser popular demais, verborrágico, escritor celebridade, rei do
terror para adolescentes... O critico literário Harold Bloom, seu maior “inimigo”, declarou que dar um premio
como o National Book Fundation para Stephen King era “Mais um degrau abaixo no
chocante processo de estupidificar nossa vida cultural”.
E agora que Stephen King recebeu das mãos do Presidente
Obama, a Medalha Nacional de Artes? O que você me diz Sr.Bloom?
Demorou 15 anos para “Sobre a Escrita” ser publicado aqui no
Brasil.
Minhas esperanças já estavam perdidas há
anos. Assim como o livro “Writing for Comics” do Alan Moore, “piratiei” o PDF
de “On Writing”...não me julguem !
O que sempre me impressionou em sua escrita é o mesmo que os
críticos odeiam: a maneira informal e simples de se expressar. Ele te
chama para um bate papo em sua sala; “Ei, venha aqui, preciso te contar
algo”. E ele faz isso com maestria, trazer essa intimidade e te transportar para a mente dele sem que
você perceba.
O livro é dividido em duas partes, na primeira você encontra
uma autobiografia onde King fala um pouco de suas influencias literárias, idéias,
infância, seus vícios, sobre sua esposa Tabitha e seus filhos. E na segunda,
dicas sobre personagens, o que usar ou não, “o advérbio não é seu amigo” e dicas de leitura. Quer ser um escritor de verdade? Uma das dicas de SK é escrever mil
palavras por dia e tirar só um dia de folga na semana !
Inspirador e muito bem humorado, o livro tem só 255 páginas, (pouco para SK) mas o necessário para quem quer aprender com o mestre.
Impossível não ficar com um sorriso no rosto, quando SK
escreve :
“Coloque sua mesa em um canto e, todas as vezes em que se sentar para
escrever, lembre-se da razão de ela não estar no meio da sala. A vida não é um
suporte à arte. É exatamente o contrário”